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Na leitura do livro "A Papisa Joana" de Donna Woolfolk Cross encontrei duas passagens muito engraçadas, que decidi partilhar com vocês aqui na Constelação.

A primeira passagem que escolhi refere-se a um momento alto de humor, que não tenho o prazer de encontrar muito nos livros. Achei simplesmente deliciosa!

«Ele tivera de estudar como um escravo para aprender as formas latinas e decorar os capítulos das regras. Mas o que faltava a Tomás em brilhantismo tinha ele em persistência e no esforço que dedicava às práticas piedosas. Quando terminava as refeições, tinha o cuidado de poisar a sua faca e o seu garfo perpendicularmente, em homenagem à Santa Cruz. Nunca bebia o seu vinho de uma vez, como os outros, mas em três goles de cada vez, reverentemente, numa piedosa ilustração do milagre da trindade.»

A segunda, acaba por se enquadrar na velha máxima "mais do mesmo". Mas não resisto a colocar aqui mais uma contradição que persegue a Igreja Católica desde os primórdios da sua existência: ser usada como moeda de troca!

«-O meu senhor diz que ele (o Rei deposto) até se manifestou aberto aos saxónios, oferecendo-lhes a possibilidade de voltarem a adorar os seus deuses pagãos se estivere dispostos a lutar por ele.»

As Traduções

Ler um livro traduzido da lingua em que foi escrito, não deixa de ser, a leitura de uma interpretação do que foi escrito originalmente.

A tradução ainda não é uma ciência exacta! Cada pessoa (comparando pessoas com experiências semelhantes na tradução), traduz uma frase de determinada maneira. A maneira como foi escrito e o modo como é traduzido depende de muitos factores, nomeadamente da experiência do tradutor com a lingua em questão, da linguagem empregue pelo escritor, entre outros de igual relevância.

Esta questão foi levantada por Nuno Rogeiro, no programa Sociedade Das Nações, que passa na Sic Notícias aos Sábados. O comentador recomendou um livro chamado "América a Bem ou a Mal", de Anatol Lieven, cujo nome original é "America Right or Wrong". Como Nuno Rogeiro salientou (e com toda a certeza os caríssimos concordam!), o livro deveria chamar-se "América, Certa ou Errada". Tal não acontece, por causa de uma tradução. Uma má tradução.

Não é que um livro faça a diferença. Mas quantas coisas não nos passam ao lado, por não termos a oportunidade ou a paciência para lermos o livro na versão original!

A Papisa Joana

«A autora reuniu, numa perfeita combinação, aspectos lendários com factos históricos do qual resultou um romance sobre Joana de Ingelheim. Filha de um missionário inglês e de uma mãe saxónica, Joana, nascida a 814, sente-se frustrada pelas limitações impostas à sua vida pelo simples facto de ter nascido com o sexo errado. O seu irmão Mateus começou a ensiná-la a ler e escrever quando Joana contava apenas seis anos. Com a sua morte, Joana recorre a toda a sua astúcia e capacidade de ludibriar de modo a continuar a dar largas à sua paixão pelo saber. Mais tarde, Joana foge de casa para seguir os passos do seu irmão João, a caminho da escola religiosa na Catedral de Dorstadt, onde ela se torna a única presença e estudante feminina tolerada. É quando surge Geraldo, e a vida de Joana muda ao aperceber-se de que o ama. No entanto, o seu amor é-lhe interditado pelas maquiavélicas manobras de Ritschild. Usando as roupas e identidade do irmão, depois deste ter sido chacinado durante um ataque normando, Joana foge e entra para o mosteiro de Fulda, onde ela se passa a denominar, depois de feitos os votos primordiais, João Anglicus. Trilhando o caminho de monge a padre, enquanto apurava o seu conhecimento e técnicas de cura, Joana começa a traçar a sua rota direita a Roma, onde os seus dons lhe abrem caminho para se tornar confidente e físico curador dos dois papas. É nos meandros de várias intrigas políticas no meio eclesiástico que Joana, ela própria, ascende ao posto de pontífice máximo da Igreja Católica. A Papisa Joana resulta numa fabulosa e vívida recriação do período por nós conhecido como a Idade das Trevas.»

Almas ao Entardecer

Este ano, numa das muitas feiras do livro em saldo, comprei dois contos de Edith Wharton, a escritora de livros como "A Idade da Inocência" e "A Casa da Felicidade", ambos transformados em filme.

"Almas ao Entardecer" é um pequenino conto, muito ao género das obras referidas. Retrata um casal de americanos, em fuga da América. Ela, ainda casada, escolheu outro homem para alcançar a sua felicidade. Ele, solteiro, fugiu com uma mulher casada.
Ambos são alvo de repúdio da sociedade onde pertencem. No entanto, sentem falta dessa mesma sociedade de onde fugiram.

Um livro bastante interessante, que em meia-dúzia de linhas consegue simplificar aquilo com que nos deparamos todos os dias: a fuga da normalidade e do quotidiano, é apenas uma maneira de fugir dos problemas, porque no fundo, não sabemos viver de outra maneira. Além disso, esta fuga não se suporta para sempre, apesar daquilo que possamos pensar quando a iniciamos!

Para além de tudo isto, Edith Wharton demonsta de modo fabuloso as poucas escolhas que as mulheres tinham apenas há 100 anos atrás! Para nós, que vivemos num mundo de escolhas e de completa liberdade, chega a ser chocante imaginar como seria se assim não fosse!

«Para onde iria ela? Qual seria a sua vida quando o tivesse deixado? Ela não tinha parentes chegados e poucos amigos. Pensou nela como se estivesse a andar descalça sobre gravilha.» Edith Warthon, Almas ao Entardecer

The English Patient

«Nos últimos dias antes de estalar a guerra, fora pela última vez ao Gil Kebir, desmontar o acampamento de base. O marido dela ficara de o ir buscar. O marido que ambos amavam até terem começado a amar-se um ao outro. Clifton partiu com destino a Uweinat no dia marcado, sobrevoando o oásis perdido tão rente ao chão que as folhas das acácias se espalharam, esfaceladas, na esteira da avioneta, o Moth a rasar as depressões e as falhas do terreno - enquanto ele, no cimo da alta escarpa, fazia sinais ao piloto com uma lona azul. Depois o avião descreveu uma curva descendente e veio direito a ele, despenhando-se no solo, a cinquente jardas de distância. Um coluna de fumo azul subiu em volutas do trem de aterragem. Não chegou a haver chamas. Um merido tresloucado. A ânsia de os matar a todos. Matar-se a si e à mulher - e a ele também, deixando-o encurralado no deserto. Só que ela não estava morta. Ele pegou no corpo inerte, libertando-o das garras retorcidas do avião, das garras do marido.» O Paciente Inglês, Michael Ondaatje

Um dos filmes mais maravilhosos, e um dos livros mais lindos de todo o sempre.
Fica aqui o trailer, para quem quiser ver, ou rever.

1 Ano


A Constelação faz hoje um ano.
Foi há 365 dias que começamos, numa noite de concretização de um sonho: partilhar opiniões acerca de livros.

Claro que sem vocês, não teria sido possível. Agradecemos a todos os que nos visitam e que partilham as ideias e opiniões que fazem deste blog, um blog do mundo. Um lugar interactivo onde podemos dar e receber.

50 livros e 151 posts depois, só posso desejar que o próximo ano seja tão bom quanto este!

Quem ao longo da sua infância não brincou aos piratas, ou mesmo aos vendedores de feira???
Ou então, numa versão mais moderna, aos Power Rangers no pátio da escola? (Eu brinquei muitas vezes!!!!!!)

Durante a leitura das Memórias da Cleópatra, encontrei uma passagem demasiado linda para não a publicar!

«Brincamos às escondidas entre o junco e fingimos ser Hórus a atacar o demoníaco Set nos pantanais de papiro, perturbando os patos e os martins-pescadores.»

Desta nunca me lembrei!

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