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A Ferreirinha e a Fúria das Vinhas

Acompanhei a série "A Ferreirinha" na RTP1 com a maior das atenções. A história era deliciosa, as personagens estavam muito bem caracterizadas e as interpretações fabulosas. Foi, a meu ver, a melhor série portuguesa dos últimos tempos.
Comprei a "Fúria das Vinhas" porque Francisco Moita Flores interliga elementos da série com outra história. A história de um assassino e do bacharel que o vai perseguir pelos socalcos do Douro.
Se a série televisiva é genial, o livro não lhe fica atrás. Aliás, é um dos melhores livros que li nos últimos tempos, e não têm sido assim tão poucos como isso. As minhas expectativas eram altas, mas foram claramente superadas.
Francisco Moita Flores fez uma coisa absolutamente surpreendente e inovadora: confrontou uma investigação criminal nos primórdios da sua existência (e toda a inovação que acarreta), com o conhecimento do povo e as reticências desse povo em evoluir e em aceitar a ciência. O facto do livro se passar no Douro ajuda à trama. São cidades e aldeias, muito pequenas, onde o presidente da câmara é também o barbeiro, e o médico ainda receita mezinhas. São as bruxas e as superstições. São os boatos e os contos e ditos das vizinhas.

Tudo isto entra em choque com a personagem de Vespúcio Ortigão. Versado em Direito, cita Teófilo Braga e Voltaire. Contrariando todos os dados adquiridos das gentes do Douro. Falava em autópsias e estetoscópios. Em Deus e no Diabo na mesma medida. Era um herege. Um "maluquinho", que tinha ficado afectado por tanto estudo e leitura.

E claro, depois temos a Ferreirinha. Uma Mulher, que ousou fazer frente a tudo e a todos e que nunca perdeu o amor às suas terras e à sua gente mesmo apesar das contrariedades. Antónia Adelaide Ferreira colocava o Douro e a sua gente à frente de tudo. Teve de lutar contra as pragas das vinhas (especialmente contra a Filoxera, que quase destruiu o vinho do Porto), filhos gastadores e pouco dedicados à mãe e ao Douro, o Governo (que do alto da sua importância não a queria deixar estender a zona demarcada do Vinho do Porto) e claro, contra a ignorância das pessoas e a sua falta de confiança.
A Ferreirinha foi, sem sombra de dúvidas, uma das pessoas mais importantes e fascinantes do nosso país. Foi uma Mulher diferente do seu tempo. Uma mulher que não teve medo de lutar pelas suas convicções, e que salvou aquilo que é hoje uma das nossas maiores e mais representativas imagens: o Douro e o Vinho do Porto.
Antónia Ferreira mereceu este livro. E Portugal também. Representa a antítese máxima daquilo que continua a vigorar na nossa sociedade: o conhecimento e a ciência contra as crendices do povo. Ainda hoje estamos parados. Ainda hoje negamos o conhecimento, e só o aceitamos quando somos obrigados à custa de multas e certificações.

Um livro maravilhoso, de um autor muito "nosso" e que fala de nós, e do nosso passado tão presente... como se a única coisa que tivesse mudado fossem os cavalos em troca de motores.
Como se costuma dizer na minha terra: "Ponho as mãozinhas no fogo por este livro". Leiam, e garanto que não se arrependem!

8 comentários:

Também acho a Ferreirinha uma mulher extraordinária, uma verdadeira lutadora! (Não cheguei a ver a série da RTP e muito me arrependo, retrata uma época tão importante para o nosso país!)

Tenho mesmo de dar uma espreitadela a este livro, deve ser impressionante testemunhar o grande confronto entre o conhecimento e as superstições com o belo rio Douro como cenário! :)

sexta-feira, agosto 17, 2007 2:28:00 da manhã  

Pode-se dizer que a Ferreirinha foi a primeira pessoa do Norte a bater o pé ao governo sulista e centralista que sempre povoou este país.

Foi uma mulher de coragem, de paixões, e de dedicação aos seus negócios e aos seus funcionários, uma boa patroa hehehe.

Acho que a Ferreirinha deve ter sido a 2ª melhor série portuguesa que deu na RTP, é pena as pessoas preferirem verem outras coisas, serem tão voyers, gostarem mais de saber da vida intima dos outros e não olharem para o canto das suas casas que estão cheias de teias de aranha, mas isto é Portugal mesmo puro e duro.

Já agora, a 1ª série é " Conta-me como foi", como sabes eu ADORO essa série, e fiquei curioso com a vida de Bocage, se calhar ainda irei comprá-la.

Falando de livros, esse livro deixou-me curioso, parece-me ser um bom livro para ler refastelado ao sol, um bom livro de Verão.

sexta-feira, agosto 17, 2007 9:32:00 da manhã  

Dawn,o livro é maravilhoso!
Recomendo VIVAMENTE!

Menphis... esqueci-me do "conta-me como foi", que infelizmente nunca cheguei a ver! Acredito no que me dizes, mas realmente a série da ferreirinha é muuuiiito boa!
E este livro, seja verão ou inverno, vale a pena!
Tenho a certeza que se leres, vais gostar!

sexta-feira, agosto 17, 2007 1:13:00 da tarde  

Não vi a série, mas pelo que conheço do Moita Flores não deve ter desiludido. Acho que é um dos nossos autores mais esclarecidos. Vi o 'Bocage', 'Alves dos Reis' e 'As Pupilas do Sr Reitor' (que acho que tinha outro nome). Espero ler o livro...estou qs a fazer anos ahahaha

bj

sexta-feira, agosto 17, 2007 2:18:00 da tarde  

Porque estou com pouco tempo, não dei a devida atenção ao post (que conto ler segunda feira) mas Moita Flores, para além de me parecer um homem extraordinário, é um excelente contador de histórias.
Vou ficar com este livro (Fúria das Vinhas) debaixo de olho.

sexta-feira, agosto 17, 2007 7:40:00 da tarde  

Cristina, das que referes só vi "As Pupilas do Senhor Reitor". O nome não é esta, mas não me lembro qual era...
Este livro vale a pena. E se algum dia tiveres oportunidade de ver a série, também recomendo.

Carapau de Corrida, obrigada pela visita.
Este livro é excelente. Moita Flores criou aqui uma história fenomenal!

sábado, agosto 18, 2007 10:57:00 da manhã  

Olha, já tinha visto o livro nas prateleiras mas não fazia ideia que era sobre a Ferreirinha... Parece-me muito interessante!

domingo, agosto 19, 2007 2:32:00 da tarde  

Miss alcor: eu é que agradeço o privilégio de visitar este blogue. Muitas vezes ficamos em frente à prateleira dos livros sem ter a mínima noção daquilo que vamos comprar e com tantos escritores/as de ocasião, que têm surgido ultimamente, por vezes somos levados pelo marketing e acabamos por levar gato por lebre.
Acabei por comprar o livro, ainda na passada sexta-feira, e se bem que Moita Flores não seja desconhecido para mim, o que me surpreende é que um autor reconhecidamente oriundo da cultura alentejana , escreva sobre o Douro com tanto à-vontade como Manuel da Fonseca escreveu sobre o Alentejo ou Alves sobre o Ribatejo.
Talvez Portugal tenha perdido um bom polícia mas, em contrapartida, ganhou um óptimo escritor. Esperemos que a política partidária o não "estrague"...

domingo, agosto 19, 2007 8:04:00 da tarde  

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