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«O que levou um amável dentista como o Dr. Morley a suicidar-se? Ele era saudável e não tinha problemas financeiros ou amorosos. O que ele tinha era um encontro marcado com Hercule Poirot, que não fica convencido de tal acto de desespero e se encarrega pessoalmente de interrogar os pacientes, colegas e amigos do bom doutor. Poirot desconfia que o Dr. Morley não era uma vítima assim tão improvável de homicídio. Nem que fora apenas a primeira…» Fonte


Mais um adorável livro de Agatha Christie no qual, mais uma vez, o que parece não é! Esta história, que a princípio parece apenas um caso de erro médico, acaba por se desenvolver numa trama muito bem estruturada, que se revela quase demasiado maquiavélica, mas com tanta lógica que é impossível não gostar.

A escritora não para de me surpreender, e os seus livros são realmente um tesouro a ter por perto!


Entretanto, Boas Leituras!

«Apenas alguns meses depois da morte de Filipe, o Belo, os conflitos, as intrigas, os ódios e a luta pelo poder ameaçam submergir a França numa instabilidade devastadora. O legado de três décadas de eficácia administrativa, económica e política escapou-se como água por entre as mãos de Luís X, que permitiu a confrontação entre ministros burgueses e nobres conservadores se saldasse pela perda do domínio das províncias. Estava-se no Verão de 1315. De acordo com o cognome por que é conhecido na corte, Luís, o Teimoso, começou a regência com a obsessão de se desfazer da mulher, Margarida de Borgonha, e de sentar a seu lado uma nova rainha. Com Margarida assassinada e a bela princesa Clemência, da casa de Anjou-Sicília a caminho, vinda de Nápoles, para se tornar rainha de França, Luís X parece preparado para assumir a responsabilidade pelo seu reinado. No entanto, num alarde de grandeza, próprio de quem tem o poder, mas não a capacidade de o conservar, o rei envolve-se numa guerra absurda contra o conde da Flandres, enquanto o seu povo morre de fome. No Mediterrâneo, as tormentas mergulham os pensamentos da futura rainha Clemência nos mais negros presságios. O veneno volta a correr nas veias de França, e nada parece poder evitar que venha a ameaçar a coroa.» Fonte

Maurice Druon pegou na realidade e criou uma saga espantosa para os amantes da história (mesmo que não seja a do nosso país!). O escritor consegue manter o interesse na leitura com um pormenor fabuloso, que é o de ir fazendo pequenos comentários acerca de acontecimentos futuros influenciados pelo episódio que estamos a ler. Claro que quem conhece realmente a história a fundo sabe o que vai acontecer, mas para alguém menos avisado (como eu!) é um aspecto muito positivo, que nos dá vontade de continuar em frente só para saber o desfecho.

A vantagem que existe em ler uma saga é que o desenvolvimento das personagens é de tal modo acentuado que fechar o livro é uma tormenta porque é como desligar uma parte de nós. A grande desvantagem neste caso é a dificuldade em destrinçar os pormenores dos livros. Honestamente, depois de 3 livros lidos há alguns acontecimentos que não consigo situar num livro em particular.
Apesar desta dificuldade a saga está escrita de um modo muito agradável porque permite uma continuação que torna a compreensão mais fácil dos pormenores históricos.

Este livro em particular é muito interessante, porque é possível contactar com uma opinião feminina muito relevante através da personagem da raínha Clemência. Para além desta, o livro mostra que a história se fez realmente de grandes homens, mas sempre rodeados de mulheres extraordinárias uma vez que o curso da história foi grandemente afectado pela astúcia de uma mulher em particular que conseguiu assassinar um rei.

Muito interessante e absolutamente recomendável!

Entretanto, Boas Leituras!


É talvez a obra mais famosa do escritor norte-americano. Valeu-lhe um prémio Pulitzer, e mais tarde, o Nobel. Retrata a saga de um pescador, Santiago, na luta contra um espadarte enorme, que o arrasta para longe da costa.

Todo o livro é a luta entre o pobre pescador,que há mais de oitenta dias que não pescava nada, e sobrevivia pela caridade dos que o rodeavam.
Santiago enfrenta sozinho um espadarte maior do que o bote onde pesca. Durante 4 dias, sobrevive à custa de peixe cru e golinhos de água e aguenta a fome, o frio, o sono e a dor, para ver o seu prémio devorado por tubarões que não consegue afastar, e que lhe deixam apenas o esqueleto do gigante marinho.

Comecei a ler o livro numa noite de insónia, e claro que rapidamente fiquei embrenhada na história, com os peixes-gato a saltar na água, e a brisa a trazer o cheiro do mar.Vi as estrelas como se lá tivesse estado, e senti a dor e a fome do pescador como se fossem minhas.

É um volume maravilhoso, que nos lembra que realmente há que lutar pelo que queremos, mesmo que no fim apenas reste a memória do que conquistamos.

«Após vinte e nove anos de um governo sem fraqueza, o Rei de Ferro morria, com quarenta e seis anos, de uma congestão cerebral, enquanto um eclipse solar lançava uma sombra espessa sobre a França.
Verificava-se, assim, pela terceira vez, a maldição lançada no meio das chamas, oito meses antes, pelo grão-mestre dos templários.
Soberano tenaz, altivo, inteligente e discreto, o rei Filipe preenchera tão bem seu reinado e dominara de tal forma seu tempo que se tinha a impressão, aquela noite, de que o coração do reino parara de bater.» excerto d'A Raínha Estrangulada, Maurice Druon

«Estava-se no Inverno de 1314 e rapidamente a notícia chega até aos cantos mais recônditos de França para criar um período de expectativas inquietantes. Por incrível que pudesse parecer, Filipe, o Belo, o Rei de Ferro, estava morto. Quase três décadas de governo firme e eficaz chegavam abruptamente ao fim, sem que ninguém se atrevesse a apostar que Luís de Navarra, o herdeiro, fosse capaz de estar à altura da tarefa que o destino lhe havia atribuído. De temperamento instável e fraca inteligência Luís X, o Teimoso, haveria de enfrentar uma época marcada pelas suas próprias fraquezas e pelas lutas turbulentas de poder geradas pelo vazio de autoridade deixado pelo seu pai.Na corte, tanto o conde Carlos de Valois, irmão do rei morto, como Enguerrand de Marigny, primeiro-ministro e conselheiro real lançaram-se numa disputa para controlar os desígnios de França, com evidente menosprezo pela soberania assumida pelo débil monarca. Neste jogo de intrigas e traições, Luís, o Teimoso, deverá também resolver a sua relação com Margarida de Borgonha: a mulher que permanece presa num calabouço sujo acusada de adultério e que na qualidade de rainha legítima ameaça transformar-se num grave perigo para os seus interesses políticos.» Wook
O segundo volume da saga "Os Reis Malditos" é mais um livro absolutamente maravilhoso. É um volume de transição(entre a tomada de posse do novo rei, e a luta pelo poder entre o seu tio e o antigo ministro do seu pai) e está recheado de intrigas que nos mostram que a luta pelo poder sempre foi desleal e feia, e que nada mudou ao longo dos tempos. Cada página é um transporte para outros tempos, e é um verdadeiro prazer acompanhar a história como ela aconteceu!
Completamente recomendável. É difícil parar de o ler, e só o facto de sabermos que existe uma continuação, é uma mais-valia extraordinária!
Entretanto, Boas Leituras!

A expressão "em equipa vencedora não se mexe" aplica-se perfeitamente aos livros da saga Kurt Austin do escritor Clive Cussler. É realmente um autor que tem sempre alguma história interessante para aquelas alturas em que não nos apetece ler nada demasiado sério!

«As forças armadas russas estão à venda. O povo está cansado da corrupção governativa e do crime organizado. O sentimento nacionalista e o antagonismo para com os Estados Unidos e a Europa bateram todos os recordes. A Rússia é um barril de pólvora que pode explodir a qualquer momento.Razov é um magnata com um império na navegação e nas minas que se dedicou à ressurreição da Mãe Rússia.Ele subscreve os ideais cossacos de masculinidade e força bruta, e a sua audácia conquistou a lealdade de muitos russos cansados do capitalismo e da liberdade e que anseiam por um nacionalismo capaz de restaurar as glórias da Rússia. Alegando ser um descendente dalinhagem Romanov, Razov revela-se um homem paranóico e acredita que o resto do mundo o quer destruir.Entretanto, na costa do Mar Negro, Kurt Austin salva da morte uma bela reporter chamada Kaela e toda a sua equipa de filmagens. Nesse momento, Austin é informado de que um submarino nuclear poderá tercaído nas mãos erradas. Poderá a loucura de Razov levá-lo a usar este arsenal para provocar um desastre global? Até que ponto está terminada a Guerra Fria?» Saída de Emergência

Para quem gosta de aventuras recheadas de personagens cativantes e histórias com pormenores reais e assustadores este é o livro ideal! Tem a dose perfeita de perseguições, destruição de equipamentos caros e claro de romance (que acaba sempre por ficar bem!).
Clive Cussler consegue pegar numa ideia cliché (O super vilão que quer destruir o mundo!) e transformá-la num livro quase impossível de largar.

Como de costume, claramente recomendável (especialmente para aqueles que adoravam livros de aventuras quando eram pequenos!)!

Entretanto, Boas Leituras!

Nas últimas páginas do livro "O Rei de Ferro" de Maurice Druon deparei-me com um pormenor curioso que gostaria de partilhar aqui.

«Foi preciso segurar-lhe a mão para que ele pudesse assinar o pergaminho. Depois murmurou:
— É tudo?
Mas não, não era tudo, e o último dia do rei da França não tinha ainda acabado.
— É preciso, sire, que agora passeis a vosso filho o segredo real — disse o Grande Inquisidor.
E mandou esvaziar o quarto a fim de que o rei transmitisse ao filho o poder misterioso de curar escrófulas.
Com a cabeça atirada para trás, Filipe, o Belo, gemeu:
— Irmão Reinaldo, olhai o que vale o mundo. Eis o rei da França.
No instante de sua morte, ainda exigiam dele um último esforço para ensinar ao seu sucessor como aliviar uma doença benigna.
Não foi Filipe, o Belo, quem ensinou os gestos e as palavras sacramentais: ele os esquecera. Foi o Grande Inquisidor. E Luís de Navarra, ajoelhado junto de seu pai, as mãos ardentes e unidas às mãos geladas do rei, recebeu a herança secreta.»

"Escrófula" é definida como uma inflamação dos gânglios linfáticos submandibularese cervicais, que está associada à Tuberculose. Históricamente é conhecida como "Mal de Rei", uma vez que existia a crença que as pessoas afectadas pela doença seriam curadas pelo toque do Monarca inglês ou francês. Foi um costume usado na Inglaterra até inícios do século XVIII.

Desde 1633 o "Book of Common Prayer" da igreja Anglicana, continha uma cerimónia para esta "cura", e tradicionalmente oMonarca presenteava a pessoa em que tocava com uma moeda. Acreditava-se que estas moedas curavam doenças, traziam boa sorte e podiam influenciar o comportamento das pessoas.

«Belo e ambicioso, Filipe IV, ousa invadir os domínios dos Templários. Em 1307 encarcera os membros desta ordem, e em 1314 manda executar um dos mais poderosos homens de então, Jacques de Molay. Negando até ao fim as acusações de que era alvo, o Grão-Mestre da extinta ordem lança sobre o rei Filipe IV uma maldição que se prolongaria até à sétima geração.
Num cuidado e vivo retrato do século XIV, dos meandros de poder e intriga que levarão à Guerra dos Cem anos, Maurice Druon segue o rasto dos descendentes de Filipe IV. Tendo o próprio rei morrido um ano após a condenação do templário – assim como o Papa que permite a sua prisão – a sua descendência vivera a doença, o crime, o envenenamento.
"O Rei de Ferro" é o primeiro de sete títulos incluídos no ciclo "Os Reis Malditos". Aqui germina a maldição que afectará toda a descendência de Filipe IV. Conhecido pela sua beleza, ele tudo fará para manter um poder absoluto sobre o reino. A ambição leva-o à cobiça da fortuna dos Templários. Acusando-os de heresia, confisca todos os seus bens, mas não voltará a ter paz... » Circulo de Leitores

Um mês depois da morte do escritor, tive o prazer de terminara leitura do primeiro livro da Saga "Os Reis Malditos". A minha atenção já tinha sido despertada para a história, mas só agora tive a possibilidade de a começar a ler.

Este "Rei de Ferro" é um livro muito bem escrito que desliza pelos nossos olhos com uma fluidez impressionante. A história está muito bem contada e o desenvolvimento das personagens (todas personalidades da história e portanto pessoas reais) está muito bem estrututado.

É uma história que nos dá um vislumbre dos tempos mais antigos da história deste nosso mundo, com pormenores autênticos, e verdadeiramente apaixonantes, que nos colocam num mundo totalmente diferente daquele a que estamos habituados (sem nunca nos deixar esquecer que foi o mundo em que viveram os nossos antepassados).

Absolutamente recomendável!

Recentemente, numa conversa com uma das minhas Tias, descobri que uma das suas memórias literárias mais antigas é acerca de um romance que leu quando ainda era uma adolescente chamado "O Solar dos Castanheiros".
Há 35 anos (ou mais!!!) e ela ainda se lembra do nome da história, do autor, e claro, da trama em si, o que para mim é um facto maravilhoso uma vez que, mesmo no que diz respeito aos livros mais marcantes da minha vida, os pormenores escapam-se da minha mente como enguias da mão do pescador!
Claro que não descansei enquanto não li o livro, o que não foi fácil considerando que não há edições recentes do mesmo.
A escritora, Mdme Alphonsine Vavasseur-Archer Simonete (1836-1952) usava o pseudónimo de Max du Veuzit, no tempo em que editar livros ainda não era um privilégio das mulheres.
O Romance conta a história de Solange, uma rapariga que termina a sua educação num colégio de freiras e que vai viver para junto da mãe, eternamente de luto desde a morte do marido, que a filha nunca conheceu. Por esta altura, Solange descobre que a propriedade que pertencia a seu pai vai ser vendida a um estranho e sedenta de informação sobre a figura paterna, faz amizade com aquele que foi o seu mais fiel criado de forma a sabe os verdadeiros factos ligados ao seu desaparecimento.

É uma história que se lê rapidamente, e que nos transporta para um tempo em que as pessoas eram simples e o mundo era mais tranquilo e mais puro. Além disso é o verdadeiro do romance, que nos faz chorar de alegria no fim porque às vezes só precisamos de algo que nos aqueça o coração.

Só me resta agradecer à minha Tia por esta herança tão inusitada, de tempos longínquos.

Há alguns anos atrás disseram-me que este livro era essencial para a compreensão do ser humano, e portanto indispensável para a formação que estava a desenvolver no momento. Li-o com o espírito de obrigação e não gostei. Nem gostei, nem compreendi!
Naquele tempo os livros de apoio à leitura eram um luxo que não me podia permitir, e só agora, na "geração internet" é que pude aprofundar a verdadeira essência do conto de Kafka (muito graças a uma análise que li no Estante de Livros e que me levou a dar uma segunda oportunidade ao escritor!)

Depois de tantos anos a dizer mal do livro, finalmente consegui perceber o seu objectivo e pergunto-me como pude ser tão "Mente Fechada"a primeira vez que o li.
Samsa, o indivíduo que se transforma em insecto, é um ser esmagado pela sociedade, que tem um emprego que odeia, mas que mantêm para que posso sustentar a família, um conjunto de parasitas, que vivem à custa dele, simplesmente porque é mais fácil. Quando Gregor Samsa adoece e deixa de trabalhar (por se ter supostamente transformado num insecto!) a família, mais uma vez, opta pela solução mais simples, que é ignorar Samsa e arranjar outro meio de subsistência.

É um livro pequenino, que retrata com muita crueza o comportamento dos seres humanos perante a diferença. Acredita-se que a"metamorfose" seja a representação da doença mental. Pensando bem, não seria difícil Gregor cair numa depressão tão profunda, devido ao esforço que executava diariamente para viver com o peso familiar, que ficaria completamente alheado do mundo.
A verdade é que não é um livro verdadeiramente agradável! Evoca cheiros e ruídos verdadeiramente assustadores. No entanto, não posso tirar o mérito ao escritor, porque é esse facto que permite compreender a repugnância e o medo que a família sente dele bem como ajudar o leitor a compreender as dificuldades inerentes à sua transformação.
Entretanto, Boas Leituras!

Depois de "1984" não podia deixar de ler o famoso "Triunfo dos Porcos", livro que me aconselharam a ler já vai para mais de 10 anos. Por uma ou outra razão, só o li a semana passada!

É um livro pequenino, que se lê muito rapidamente, e cuja leitura se devo recomendar sem qualquer hesitação.

Parece-me que é inato no Ser Humano, seja qual for a sua raça, idade ou educação, fazer o melhor para si, sem olhar duas vezes para os que o rodeiam. A História é prova disso. Todos os grandes ditadores convenceram o povo com ideias de melhor qualidade de vida, quando no fim todos acabaram por fazer o mesmo: eliminar aqueles que não concordavam com as suas ideias, bem como fazer propaganda para parecer que o estado nunca se contradizia e que se limitava a estar sempre certo.
O egoismo e egocentrismo do Ser Humano fazem com que este seja facilmente corruptível numa situação de poder, mesmo que afirme que tal não seja possível (e sempre considerando as devidas excepções, como tudo na vida!)

É neste sentido que "O Triunfo dos Porcos" é um livro maravilhoso, porque retrata com exactidão o resultado de todas as revoluções até à data, que apesar de começarem sempre sob o mesmo pretexto, acabam sempre da mesma maneira:

"Todos são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros"


Entretanto, Boas Leituras!


Em "Dia do Livro" terminei a leitura de um espantoso exemplar da literatura: "1984".

«Mil Novecentos e Oitenta e Quatro (título original Nineteen Eighty-Four) é o título de um romance escrito por Eric Arthur Blair sob o pseudónimo de George Orwell e publicado a 8 de Junho de 1949 que retrata o quotidiano numa sociedade totalitária. O título vem da inversão dos dois últimos dígitos do ano em que o livro foi escrito, 1948.
O romance é considerado uma das mais citadas distopias literárias, junto com Fahrenheit 451, Admirável Mundo Novo, Laranja Mecânica e Nós. Nele é retratada uma sociedade onde o Estado é onipresente, com a capacidade de alterar a história e o idioma, de oprimir e torturar o povo e de travar uma guerra sem fim, com o objetivo de manter a sua estrutura inabalada.»
Wiquipédia

Já há muitos anos que li o "Admirável Mundo Novo"de Aldous Huxley, e apesar de ter esquecido alguns pormenores nunca consegui apagar a marca que o livro me deixou. Ainda hoje, quando olho para ele, me lembro das incubadoras para criar bébés e da educação baseada na teoria do Pavlov de acordo com a profissão a que as crianças eram destinadas (por exemplo, se estivessem destinadas a trabalhar nas minas eram-lhes administrados choques eléctricos sempre que as expunham à luz solar).

A leitura de "1984" ainda me chocou mais por abordar uma parte diferente do processo (se é que lhe posso chamar assim!) da aniquilação do ser humano enquanto ser livre e pensante.
Não há nada mais assustador do que alguém nos fazer acreditar que tudo aquilo que julgavamos verdade é na realidade mentira. Claro que a pessoa submetida ao processo nunca mais se vai lembrar, mas o que é certo é que para quem está a ler é assustador imaginar sequer o facto!

Além disso, toda a existência é eliminada. A pessoa existe apenas porque o sangue lhe corre nas veias, porque não é autónoma. O cérebro limita-se a viver, sem pensar, sem escolher... simplesmente reage aos estímulos do exterior sejam eles contraditórios ou não.O ser humano é considerado fraco, porque só em conjunto é que consegue ter força.
A própria linguagem é modificada no sentido de eliminar as palavras que possam de alguma maneira dificultar a rotina do indivíduo: se é bom, não há necessidade de todos os outros adjectivos como bestial ou fantástico, soberbo, genial... é simplesmente bom, porque o próprio acto de pensar num adjectivo pode levar o indivíduo a cometer um crime contra o estado.

O livro é simplesmente soberbo... assustador, mas soberbo!

Espero não ter revelado demais para quem ainda não leu o livro, mas fiquei completamente apanhada pela história e só me apetece contar tudo com muito pormenor!!! Recomendo a leitura do livro sem qualquer reserva, porque é um bom incentivo para as pessoas abrirem os olhos a tudo o que as rodeia, sem se deixarem adormecer na rotina e em vez de viverem se limitarem a existir.
Entretanto (e hoje com um significado mais especial) Boas Leituras!

Messias

Boris Starling é um escritor Inglês, que já trabalhou como jornalista, e que se lançou no estrelato com este livro, "Messias", aclamado pela crítica de todo o mundo em 1999. A personagem principal é Redfern Metcalf, um investigador da Scotland Yard.

«Londres, Maio de 1998. Uma onda de calor sufoca a cidade: dias abafados, estranhas noites de nevoeiro e os passos furtivos de um assassino pelas ruas. Três pessoas aparecem misteriosamente assassinadas sem que qualquer pista indique uma relação entre os crimes: nada as une nem as liga... a não ser o facto dos seus cadáveres aparecerem com uma colher de prata no lugar onde anteriormente tinham a língua...»

"Messias" é um livro muito bem escrito, com uma história bem delineada, que nos dá a conhecer o presente (ou seja, a investigação em curso), mas também a vida passada das personagens, bem como o que passa na mente do assassino. Ao longo do livro vamos tendo pistas dissimuladas acerca de quem é o assassino, apesar de só no fim nos apercebermos disso.
É um bom thriler, mas o final do livro é de algum modo perturbador.
Uma das coisas que mais gosto neste género de livro é a redenção final das personagens. Normalmente o final é uma mistura de sangue e lágrimas, onde os culpados têm o que merecem, e os "bons" têm de algum modo a sensação de missão cumprida. O leitor, fica com o coração acalentado, como se tudo no mundo fosse cair nos eixos, e correr bem dali para a frente.

Neste livro não há este sentimento. Apesar de todos terem o que merecem, a justiça final é de algum modo fria e desprovida de calor. É o típico caso no qual o coelho deixa de ser a vítima, para passar a ser o caçador...

Claro que tudo isto é difícil de explicar sem desvendar aspectos importantes do livros, portanto a única coisa que posso acrescentar é mesmo dizer que dentro do género já li livros melhores, e que apesar de ser um livro muito bem escrito, não fica incluido nos meus livros preferidos de todo o sempre.

É de salientar que este livro pertence a uma colecção de livros de bolso que começou inicialmente por ser vendida pela revista "Circulo de Leitores", mas que é possível comprar na Fnac. Os preços são basicamente os mesmo, e a qualidade é muito boa.
Para quem é fã de livros que ocupam pouco espaço, com boas encadernações, é a escolha ideial!
Entretanto, boas leituras!

O Assassino Inglês

Finalmente foi publicado pela Bertrand aquele que é o segundo livro da Saga Gabriel Allon, do escritor Daniel Silva.

«Espião ocasional e restaurador de arte, Gabriel Allon chega a Zurique para restaurar a obra de um Velho Mestre, a pedido de um banqueiro milionário. Em vez disso, dá por si no meio do sangue do cliente e injustamente acusado do seu homicídio.
Allon vê-se inesperadamente a braços com uma voraz cadeia de acontecimentos, incluindo roubos de arte pelos nazis, um suicídio com várias décadas e um trilho sangrento de assassínios – alguns da sua autoria. O mundo da espionagem que Allon pensava ter colocado de parte vai envolvê-lo uma vez mais. E ele vai ter de lutar pela vida com o assassino que ajudou a treinar.»
Portal daLeitura

Mais uma vez o papel de restaurador do protagonista assume a dicotomia habitual: Gabriel é um restaurador de quadros, mas também de pessoas, e é neste estilo que o livro se desenvolve até à redenção final na qual a história acaba sempre por ter uma mensagem apropriada depois de todo o sangue e violência. O tema central é o apoio dado pelos bancos Suíços ao regime de Hitler, e mesmo sabendo que o livro não passa de um romance é realmente incrível pensar na quantidade de obras de arte que nem sequer circulam no mercado negro, mas estão guardadas dos olhos do público, escondidas nos cofres daqueles que roubaram ao abrigo de leis que ainda hoje os protegem.

O livro é altamente recomendável, claramente ao estilo de Daniel Silva que nos continua a transportar por aqueles pedacinhos de história que não queriamos lembrar, mas que fazem parte do nosso passado recente, e que por muito que gostassemos não podemos negar.

Entretanto, boas leituras!

Foi há quase 8 anos que li "O Leitor" de Bernard Schlink. Ainda é do tempo em que os dedos das mãos chegavam para contar os livros ditos "sérios" que possuía na minha biblioteca.
Na altura fiquei absolutamente abismada, primeiro porque o tema é de algum modo escandaloso (e não me refiro só aos Nazis, mas sim à natureza algo pedófila que o livro levanta na personagem de Hanna) e depois pela forte imagem que me ficou gravada na mente: é um dos únicos livros cujos pormenores quase não esqueci!

Quando soube desta adaptação ao cinema tive de satisfazer a minha curiosidade com o visionamento da película para ver até que ponto a história estaria bem contada ou não.
Kate Winslet levou o Óscar para casa pelo desempenho neste filme, e apesar de todas as más críticas que lhe foram feitas, eu não encontrei grandes falhas na sua personagem! Ao invés, a personagem de Michael (já adulto), representada pelo lindissimo Ralph Finnes, está mal explorada, e mal conseguimos perceber o que anda por ali a fazer. É realmente o único ponto que empobrece o filme em relação ao livro, porque é o peso que as recordações do Michael representam que fazem com que a história aconteça, e sem ele não há nada para contar.

Apesar de tudo isto, o filme é muito bom, e é a cópia quase fiel do livro e permite a quem o leu dar um corpo às personagens que desenvolveu aquando da sua leitura. Claro que recomendo primeiro a leitura do livro. A adaptação á boa, mas há pequenos pormenores (que acabam por ser tão grandes!!!) que escapam, e que dão ao livro o estatuto que ele tem.

Entretanto, Boas Leituras!!!

Slumdog Millionaire

Slumdog ("Cão da Favela") Millionaire é o resultado da adaptação do livro de Vikas Swarup ao grande écran.

Conta a história de Jamal Malik, um miúdo das favelas de Mumbai, que se torna milionário, ao chegar à última pergunta do famoso concurso"Quem quer ser milionário". No entanto, antes que tenha tempo de responder, é acusado de fraude e é levado para a esquadra da polícia, onde, através do interrogatório, percebemos o percurso da sua vida e como conseguiu chegar ali.

O filme é realmente merecedor da carga de Óscares que recebeu, e acima de tudo, é mais um para encher as páginas da história, para ficar lembrado como um dos melhores filmes de todo o sempre. O cruzamento entre o espectáculo de Hollywood e o extravagante Bollywood fazem deste hibrido um acontecimento memorável.
A frase de apresentação: "O que é preciso fazer para encontrar um amor perdido? a)dinheiro; b)sorte; c)inteligência; d)destino" não podia ser mais bonita, e a forma como a resposta é dada é simplesmente original!

Não há muito mais para dizer para além de recomendar o visionamento do filme, porque vale realmente a pena. A história, o contexto (porque mostra um bocadinho a realidade que se vive na Índia), os momentos que nos levam às lágrimas, de alegria e tristeza, e claro a própria mensagem de que há sempre a esperança de encontrarmos o nosso amor perdido, mesmo que tenhamos que correr mundos e fundos.


Como não podia deixar de ser, não resisti... Tive que ler mais um livro do Clive Cussler, e é pena que não tenha aqui os restantes, porque não seria um grande esforço continuar a saga.
A verdade é que Clive Cussler criou personagens maravilhosas, que nos cativam pela sua personalidade, ao ponto de se tornarem nossos amigos e companheiros.

Ler um livro do autor é entrar num mundo fantástico e curioso, onde se faz uma coisa nova todos os dias. Pousar o livro é uma tormenta, e chegar a casa depois de um dia de trabalho e saber que está ali, à nossa espera, é uma alegria imensa.

Não há nada que não se recomende, simplesmente porque não há nada mais maravilhoso do que viver uma vida recheada de aventuras e perigos, onde não sabemos o que o amanhã nos vai trazer. Estes livros permitem ao comum mortal viver essas aventuras, sem sair do sofá, como se fossem uma panaceia para a vida comum que nos aperta diariamente.


«A zona central dos Estados Unidos atravessa uma seca severa. Cerca de um quarto do país é abastecido pelo rio Colorado, abrangendo alguns dos Estados mais populosos. Los Angeles é uma das cidades mais poderosas do mundo, mas só tem reservas de água para mais dois anos. Para conseguir uma gestão sem desperdícios, o governo privatizou as empresas que gerem os recursos de água. No entanto, uma poderosa multinacional, conseguiu dominar várias empresas que gerem a água do rio Colorado. Assemelhando-se a um grande polvo, ela já estendeu tentáculos a grande parte da Europa, Austrália, África e China. Passando por cima de todos os que se atravessam no seu caminho, esta empresa já domina grande parte dos recursos naturais do Globo. Francesca, uma jovem cientista, descobriu um inovador método de dessalinização extremamente barato e capaz de produzir energia nesse processo. Se o seu projecto for divulgado, irá pôr em causa muitos milhões de euros investidos. Neste momento, a sua vida está em jogo. Passando pela Amazónia e pelos lugares mais exóticos da América do Sul, esta conspiração encontrará um último opositor: Kurt Austin e a sua equipa de investigação marítima. Será possível salvar a vida de Francesca e pôr fim ao projecto megalómano?» Saida de Emergência

Revolutionary Road

Acabei de ver o filme e ainda não sei bem o que dizer. Decidi abreviar um pouco o processo e ver o filme antes de ler a obra de Richard Yates que lhe deu origem. A verdade é que estou assoberbada pela imensa onda de tristeza que me invadiu.
Tudo na vida tem um tempo. Há coisas que simplesmente encaixam tão bem na situação que estamos a viver que de algum modo se entranham em nós sem que possamos fazer nada para o modificar.«Um casal jovem e promissor, Frank e April Wheeler, vive com os dois filhos num subúrbio próspero de Connecticut, em meados dos anos 50. Porém, a aparência de bem-estar esconde uma frustração terrível resultante da incapacidade de se sentirem felizes e realizados tanto no seu relacionamento como nas respectivas carreiras. Frank está preso num emprego de escritório bem pago mas entediante e April é uma dona de casa frustrada por não ter conseguido seguir uma promissora carreira de actriz. Determinados a identificarem-se como superiores à crescente população suburbana que os rodeia, decidem ir para a França, onde estarão mais aptos a desenvolver as suas capacidades artísticas, livres das exigências consumistas da vida numa América capitalista. Contudo, o seu relacionamento deteriora-se num ciclo interminável de brigas, ciúmes e recriminações, o que irá colocar em risco a viagem e os sonhos de auto-realização. Yates oferece um retrato definitivo das promessas por cumprir e do desabar do sonho americano.» Fnac

A história fez-me recordar Sarah, a personagem de "Pecados Íntimos" (da obra de Tom Perrotta - também levado ao cinema e é também protagonizado por Kate Winslet). As interrogações e dificuldades são quase as mesmas, apesar do resultado ser bastante diferente.
April representa aquilo que eu sinto, e que imagino que passe pela cabeça de muitas pessoas: que sentido dar à vida quando esperamos mais e mais, e não nos conseguimos simplesmente contentar com o que já realizamos? No fundo, o que fazer quando olhamos para o futuro e o conseguimos ver tão claramente apesar de sabermos que não é aquele o sentido que pretendemos dar à nossa vida?

Não posso dizer que seja um filme recomendável pelo simples facto de ser absolutamente triste. Não é definitivamente um drama leve e suave, que nos deixa a lagrimita no canto do olho. É uma história triste, devastadora, que nos deixa a pensar se a vida que vivemos é mesmo a vida que queremos viver, e no caso de não ser, o que fazer para a modificar.

Deixo aqui um pequeno excerto de um diálogo de April que recolhi do filme. Tão pequenino, e tão tradutor de uma realidade rotineira que por vezes parece que nos afoga:

«Eu queria entrar. Só queria que vivessemos de novo. Durante anos pensei que partilhassemos o segredo de que seriamos maravilhosos no mundo. Não sei exactamente como, mas a possibilidade manteve-me à espera. Quão patético é isto? Tão estúpido colocar todas as tuas esperanças numa promessa que nunca foi feita.
O Frank sabe, ele sabe o que quer, ele está bem. Casado, dois filhos, deveria ser o suficiente... e é para ele! E ele está certo, nós nunca fomos especiais, ou destinados a nada. Eu vi um outro futuro e não consigo parar de o ver. Não posso sair, mas também não posso ficar.»

Antes de tecer considerações quero agradecer à nossa muito querida anaaaatchim que me recomendou a leitura deste extraordinário autor, e que me guiou na leitura sequencial da Série "Numa", publicada pela Saída de Emergência.

"Serpente" é o primeiro livro da já referida série e a trama do livro é absolutamente recomendável para os apaixonados pelo thriller/romance histórico.

«Uma corporação poderosa ameaça a estabilidade política mundial. A viagem secreta de colombo e o seu túmulo, escondem a chave para defrontar uma ameaça que pode mudar o Mundo.
Há mais de 50 anos que jazem no fundo do mar gelado do Atlântico Norte os destroços do paquete de luxo Andrea Doria. Nas suas entranhas repousa uma relíquia pré-colombiana que pode mudar o destino do Mundo.
Para Kurt Austin, director de uma equipa de exploração marítima, o perigo começa quando salva uma bela arqueóloga marinha na costa de Marrocos. Após socorrer Nina Kirov, ambos vêm-se envolvidos numa missão para desmascarar uma poderosa corporação cujo plano levará a uma vaga de destruição e morte, e até à formação de um novo país. Kurt e a bela Nina Kirov desvendaram segredos muito mais valiosos do que as suas vidas. E há tesouros perdidos que nunca deviam ser encontrados.»

Achei simplesmente genial. A história é deliciosa, ficamos completamente apaixonados pelas personagens principais (a equipa da NUMA), e não há nada melhor que um livro de aventuras (assim muito ao género dos "Cinco", mas com malta crescida e material de ultima geração!) no qual nos podemos divertir e ao mesmo tempo aprender.
Passei um fim-de-semana delicioso a terminar o livro, e já tenho aqui o próximo ("Ouro Azul") à espera na prateleira (se bem que não me parece que vá esperar muito tempo...!).

Se gostam do género, por favor leiam!!!

Entretanto, Boas Leituras!

Becoming Jane

"Becoming Jane"(2007), é um filme sobre a juventude de Jane Austen que de uma forma romanceada tenta recriar aquilo que terá sido a vida da escritora a partir de cartas da própria e de familiares e amigos.
Com uma argumento capaz e com uma imagem bem conseguida este é um filme maravilhoso, que ultrapassa a camada de verniz que os romances da época tentam emprestar aos séculos passados e que mostra cruamente como era a vida das mulheres cujos pais não eram abastados e que tinham de casar para terem alguma estabilidade na vida.
Possuidora de um espírito atrevido Jane Austen não era aquilo que deveria ser uma mulher normal, porque ter ideias acerca do mundo que as rodeava era um atributo que não lhes era necessário. Foi graças ao anonimato que conseguiu manter alguma presença na sociedade, porque uma mulher que decidisse viver "pela pena", não era uma mulher séria e muito menos recomendável.
Apesar de rodeado de alguma tristeza este é um filme que consegue momentos de rara beleza e de grande justiça, nos quais as personagens acabam por se redimir e por mostrar o melhor de si. Quando mostram o pior, acabam mesmo por ter aquilo que merecem, o que leva a que seja possível entrever não uma felicidade, mas pelo menos uma certa equidade numa vida que cedo se extinguiu, mas que deixou marcas numa sociedade que seria certamente menos rica sem os seus romances.
Anne Hathaway apesar de não ser uma das minhas actrizes de eleição, empresta à personagem uma marca que é tudo ao longo das 2 horas de duração da película: uns olhos enormes, quase maiores que a própria alma, e que nos prendem sempre que ela olha para alguma coisa, como se a estivesse realmente a ver, e não apenas a olhar.

Claramente recomendável, pelo leque maravilhoso de actores (para além da referida Hathaway, temos James McAvoy, Julie Walters, James Cromwell, Maggie Smith), pelas paisagens e casas magníficas (digo eu, que adoro estas "casinhas" de campo inglesas!!!), e claro, pela famosa personagem histórica que retrata.

Apenas uma pequena pausa, neste maravilhoso mundo literário que nos rodeia. Entretanto, Boas Leituras!


(Con)Textos XVII

Não resisto a publicar aqui um pequeno (!!!) excerto do "Equador" que penso que é mais do que apropriado para descrever e para compreender o País em que vivemos.
Só espero que as gerações futuras possam olhar para isto e em vez de tirarem as mesmas conclusões que eu, possam dizer com toda a convicção que estas palavras fazem sem sombra de dúvidas parte do passado.

«Desde 1890 - a data do Ultimatum inglês - o País mergulhara em profundo crise: política, económica, cultural e social. Com o fim da escravatura no Brasil tinham cessado as remessas dos emigrantes, que até aí equilibravam as contas externas do reino. Tudo o que era imprescindível à modernização do país era importado, e as únicas verdadeiras exportações eram a cortiça e as conservas de peixe. Pequenos sectores como o vinho do Porto ou o cacau de São Tomé, eram uma pequenissima contribuição no imenso déficit comercial corrente. Todos os anos, o Orçamento apresentava um desequilíbrio de cinco a seis mil contos, a acumular a uma dívida flutuante de oitenta mil. Mais de três quartos da população de cinco milhões e meio de pessoas vivia nos campos, mas a agricultura, inteiramente baseada numa mão de obra barata e miserável, não chegava sequer para evitar a fome. Oitenta por cento da população era analfabeta, noventa por cento não dispunha de cuidados de saúde e vivia exposta à doença e às epidemias, basicamente como na idade média. Portugal era o mais atrasado país da Europa, o mais inculto, o mais pobre, o mais triste. Mesmo entre a elite, pouco mais acontecia do que as cíclicas revoltas dos estudantes de Coimbra contra os exames ou a temporada lírica do São Carlos, que durava os três meses de Inverno e ponto final. Uma aristicracia diletante e retrógrada julgava que o mundo fora do São Carlos, se resumia às corridas de cavalos organizadas pelo Turf, às noites na "parada" de Cascais, nas casas da Ericeira ou nas quintas de Sintra, durante o Verão. Apenas os incomodavam ligeiramente os "novos ricos", os "intelectuais" e os republicanos, que, todavia, sabiam circunscritos a um exíguo espaço físico demarcado por meia dúzia de cafés lisboetas, para além dos quais, o povo, como sempre, acreditava nos desígnios da Providência, nos sermões de resignação da Santa Madra Igreja e na vontade divina que comandava a sua infinita riqueza patrimonial dos senhores e morgados do país.»

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