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(Con)Textos XIII

«Não te procurei porque procurar-te me daria a exacta dimensão da tua ausência, poderia vaguear minutos horas, procurar-te quem sabe chamar por ti dizer o teu nome, saberia eu que de pouco me adiantava, seria isto pergunta ou a exacta dimensão afirmação de que não te encontras.
Mal tu sabes não tiveste tempo de saber, o que pode ser uma hesitação tão estúpida entre caminhar entre os nossos destroços ou deixar-me ficar
Sentado
Encostado à banca da cozinha
Absorto a acender mil vezes o isqueiro
Reduziste-me afinal a estes passos desencadeados, todas as minhas dúvidas do momento estão aqui, sento-me, levanto-me, para quê sentar-me levanto-me para ir para onde, o cão sempre atrás de mim quer-me parecer que te procura num gesto que eu possa fazer, o cão que não sabe nunca soube dizer o teu nome mas para quem toda a vida eras tu, seremos afinal tão diferentes é o que me resta perguntar quando afinal como ele, tal como ele, também não sei já dizer o teu nome, falta-me o pormenor que te define mesmo, um detalhe para que sejas absolutamente
exacta, clara
a inveja que tenho de quem sabe traduzir.»
Rodrigo Guedes de Carvalho, A Casa Quieta

11 comentários:

Vamos lá... Nunca li Rodrigo Guedes de Carvalho. Por esta amostra, quer-me parecer que necessito de estar num estado de espírito muito especial para apreciar um livro dele como deve ser. Pareceu-me um bocado confuso, ou é impressão minha?

segunda-feira, novembro 12, 2007 9:46:00 da tarde  

Sim, é um bocadinho confuso em algumas alturas. Mas esta é uma das partes mais lindas que li!
As primeiras palavras, em que ele diz que procurá-la lhe daria a exacta medida da sua ausência, são simplesmente belissimas!
E a formatação do texto é mesmo assim . Com o autor a dar ênfase a determinados aspectos.
Quanto ao livro, posso dizer-te que é bom, mas não é muito bom. É um bocadinho alternativo!

segunda-feira, novembro 12, 2007 10:08:00 da tarde  

Apenas posso-te dizer que é um dos livros da minha vida, de um dos autores da minha vida.

Para ler Rodrigo Guedes de Carvalho, assim como ler António Lobo Antunes, é necessário ter tempo, ter a mente limpa, sem preocupações e sem pressas, não ter medo de voltar atrás para voltar a ler a frase, mas saímos de lá encantados.

Confesso que antes de começar a ler os dois, fiz algumas tentativas para os perceber melhor, abandonei-os algumas vezes, mas quando os comecei a ler melhor, nunca mais saíram da minha vida.

terça-feira, novembro 13, 2007 10:38:00 da manhã  

Cá a mim parece-me que este estilo de escrita ou se ama ou se odeia. Que é daquele tipo que temos de deixar que nos conquiste. Em que provavelmente, mais do que na história, o ênfase é dado ao estilo de escrita.
Ainda não li Lobo Antunes nem Rodrigo Guedes de Carvalho. Conto fazê-lo um dia, não sei quando... Provavelmente, quando me apetecer ler qualquer coisita mais alternativa ;)

terça-feira, novembro 13, 2007 10:58:00 da manhã  

Sempre que peguei num livro dele tive uma sensação estranha. Que devem ser interessantes, mas também complexos, exigindo de nós concentração e atenção máximas. Com que ideia é que ficaste? E aconselhas?

terça-feira, novembro 13, 2007 11:01:00 da manhã  

Também ainda não li nada do Rodrigo, mas quero ler ....

terça-feira, novembro 13, 2007 11:03:00 da manhã  

Confesso que não posso dizer, como disse o Menphis, que este é um dos livros da minha vida!
Fiquei agarrada pela escrita, que consegue cativar pelo modo original como é apresentada, mas quanto à história em si, tenho de admitir que achei um bocadinho alternativa.
No entanto é sempre um bom livro, quanto mais não seja porque dá a conhecer uma promessa da literatura portuguesa.
No entanto, tal como noutros livros que podem não ser os livros da nossa vida, mas apresentam momentos de rara beleza, este excerto que escolhi é um dos mais belos ao longo do livro. Pelo menos segundo a minha opinião! ;)

terça-feira, novembro 13, 2007 7:15:00 da tarde  

Aconselho-te a leres muitos mais livros e a releres este livro depois.

Como afirma a Cristina é necessário ter atenção e tempo disponível. Ler, reler a frase, tentar percebe-la, porque é um livro onde não existe uma voz,mas sim várias vozes. Não é um narrador a construir uma história, somos nós.

É um desafio entre tu e o livro, na primeira ficas estranha, apetece-te abandonar, ou melhor abandona-o, olha sempre para ele, esperando que ele te chame, depois gostarás muito dele.

Apesar disso, e não ter lido o último, o melhor do Rodrigo é " Mulher em Branco" foi o primeiro que o li e aquele que me ensinou como lê-lo. O " Casa Quieta" talvez não seja o ideal para começares a ler a sua escrita.

Já agora, e desculpa o mau jeito, o que é alternativo ? Não será alternativo ler hoje Eça de Queirós ou Fernando Pessoa ? Um bom tema para o blog ;)

terça-feira, novembro 13, 2007 11:59:00 da tarde  

Até que este senhor jornalista me surpreendeu..

quarta-feira, novembro 14, 2007 12:51:00 da manhã  

Menphis, não me leves a mal ter escolhido o termo "alternativo".
O que quis dizer é que não é um livro fluído, com uma história corridinha. Tal como dizes, é um livro que exige calma e paciência.
Nesse sentido, e indo ao encontro do que dizes, no ponto em que é o leitor quem faz a história, se o leitor não se conseguir encontrar naquela história, considera o livro menos bom.
Acho que é tudo uma questão de ponto de vista: o livro é bom, mas exige muito do leitor. Daí que o considere mais alternativo: porque não é muito acessível, e se não conseguirmos apanhar o fio à meada, está tudo perdido.
Gostava de ler o "mulher em branco", só para comparar o tipo de escrita, e conhecer mais o autor.

Quanto ao Eça e ao Pessoa, são clássicos, e por si só alternativos. Não é todos os dias que temos paciência para ler um clássico, mas isso não torna os livros menos bons! Eu por mim falo, que adoro Eça, e tenho como poeta favorito o Alberto Caeiro!

quarta-feira, novembro 14, 2007 8:47:00 da tarde  

Não li este livro, nem qualquer outro do autor. E pelas palavras parece-me uma leitura que requer um estado de leitura especial, pois não me parece fácil. Terei com certeza de ler nas entrelinhas. :) Quem sabe se um dia destes não leio algo de Rodrigues Guedes de Carvalho.

quarta-feira, novembro 21, 2007 1:54:00 da tarde  

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