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Revolutionary Road

Acabei de ver o filme e ainda não sei bem o que dizer. Decidi abreviar um pouco o processo e ver o filme antes de ler a obra de Richard Yates que lhe deu origem. A verdade é que estou assoberbada pela imensa onda de tristeza que me invadiu.
Tudo na vida tem um tempo. Há coisas que simplesmente encaixam tão bem na situação que estamos a viver que de algum modo se entranham em nós sem que possamos fazer nada para o modificar.«Um casal jovem e promissor, Frank e April Wheeler, vive com os dois filhos num subúrbio próspero de Connecticut, em meados dos anos 50. Porém, a aparência de bem-estar esconde uma frustração terrível resultante da incapacidade de se sentirem felizes e realizados tanto no seu relacionamento como nas respectivas carreiras. Frank está preso num emprego de escritório bem pago mas entediante e April é uma dona de casa frustrada por não ter conseguido seguir uma promissora carreira de actriz. Determinados a identificarem-se como superiores à crescente população suburbana que os rodeia, decidem ir para a França, onde estarão mais aptos a desenvolver as suas capacidades artísticas, livres das exigências consumistas da vida numa América capitalista. Contudo, o seu relacionamento deteriora-se num ciclo interminável de brigas, ciúmes e recriminações, o que irá colocar em risco a viagem e os sonhos de auto-realização. Yates oferece um retrato definitivo das promessas por cumprir e do desabar do sonho americano.» Fnac

A história fez-me recordar Sarah, a personagem de "Pecados Íntimos" (da obra de Tom Perrotta - também levado ao cinema e é também protagonizado por Kate Winslet). As interrogações e dificuldades são quase as mesmas, apesar do resultado ser bastante diferente.
April representa aquilo que eu sinto, e que imagino que passe pela cabeça de muitas pessoas: que sentido dar à vida quando esperamos mais e mais, e não nos conseguimos simplesmente contentar com o que já realizamos? No fundo, o que fazer quando olhamos para o futuro e o conseguimos ver tão claramente apesar de sabermos que não é aquele o sentido que pretendemos dar à nossa vida?

Não posso dizer que seja um filme recomendável pelo simples facto de ser absolutamente triste. Não é definitivamente um drama leve e suave, que nos deixa a lagrimita no canto do olho. É uma história triste, devastadora, que nos deixa a pensar se a vida que vivemos é mesmo a vida que queremos viver, e no caso de não ser, o que fazer para a modificar.

Deixo aqui um pequeno excerto de um diálogo de April que recolhi do filme. Tão pequenino, e tão tradutor de uma realidade rotineira que por vezes parece que nos afoga:

«Eu queria entrar. Só queria que vivessemos de novo. Durante anos pensei que partilhassemos o segredo de que seriamos maravilhosos no mundo. Não sei exactamente como, mas a possibilidade manteve-me à espera. Quão patético é isto? Tão estúpido colocar todas as tuas esperanças numa promessa que nunca foi feita.
O Frank sabe, ele sabe o que quer, ele está bem. Casado, dois filhos, deveria ser o suficiente... e é para ele! E ele está certo, nós nunca fomos especiais, ou destinados a nada. Eu vi um outro futuro e não consigo parar de o ver. Não posso sair, mas também não posso ficar.»

Antes de tecer considerações quero agradecer à nossa muito querida anaaaatchim que me recomendou a leitura deste extraordinário autor, e que me guiou na leitura sequencial da Série "Numa", publicada pela Saída de Emergência.

"Serpente" é o primeiro livro da já referida série e a trama do livro é absolutamente recomendável para os apaixonados pelo thriller/romance histórico.

«Uma corporação poderosa ameaça a estabilidade política mundial. A viagem secreta de colombo e o seu túmulo, escondem a chave para defrontar uma ameaça que pode mudar o Mundo.
Há mais de 50 anos que jazem no fundo do mar gelado do Atlântico Norte os destroços do paquete de luxo Andrea Doria. Nas suas entranhas repousa uma relíquia pré-colombiana que pode mudar o destino do Mundo.
Para Kurt Austin, director de uma equipa de exploração marítima, o perigo começa quando salva uma bela arqueóloga marinha na costa de Marrocos. Após socorrer Nina Kirov, ambos vêm-se envolvidos numa missão para desmascarar uma poderosa corporação cujo plano levará a uma vaga de destruição e morte, e até à formação de um novo país. Kurt e a bela Nina Kirov desvendaram segredos muito mais valiosos do que as suas vidas. E há tesouros perdidos que nunca deviam ser encontrados.»

Achei simplesmente genial. A história é deliciosa, ficamos completamente apaixonados pelas personagens principais (a equipa da NUMA), e não há nada melhor que um livro de aventuras (assim muito ao género dos "Cinco", mas com malta crescida e material de ultima geração!) no qual nos podemos divertir e ao mesmo tempo aprender.
Passei um fim-de-semana delicioso a terminar o livro, e já tenho aqui o próximo ("Ouro Azul") à espera na prateleira (se bem que não me parece que vá esperar muito tempo...!).

Se gostam do género, por favor leiam!!!

Entretanto, Boas Leituras!

Becoming Jane

"Becoming Jane"(2007), é um filme sobre a juventude de Jane Austen que de uma forma romanceada tenta recriar aquilo que terá sido a vida da escritora a partir de cartas da própria e de familiares e amigos.
Com uma argumento capaz e com uma imagem bem conseguida este é um filme maravilhoso, que ultrapassa a camada de verniz que os romances da época tentam emprestar aos séculos passados e que mostra cruamente como era a vida das mulheres cujos pais não eram abastados e que tinham de casar para terem alguma estabilidade na vida.
Possuidora de um espírito atrevido Jane Austen não era aquilo que deveria ser uma mulher normal, porque ter ideias acerca do mundo que as rodeava era um atributo que não lhes era necessário. Foi graças ao anonimato que conseguiu manter alguma presença na sociedade, porque uma mulher que decidisse viver "pela pena", não era uma mulher séria e muito menos recomendável.
Apesar de rodeado de alguma tristeza este é um filme que consegue momentos de rara beleza e de grande justiça, nos quais as personagens acabam por se redimir e por mostrar o melhor de si. Quando mostram o pior, acabam mesmo por ter aquilo que merecem, o que leva a que seja possível entrever não uma felicidade, mas pelo menos uma certa equidade numa vida que cedo se extinguiu, mas que deixou marcas numa sociedade que seria certamente menos rica sem os seus romances.
Anne Hathaway apesar de não ser uma das minhas actrizes de eleição, empresta à personagem uma marca que é tudo ao longo das 2 horas de duração da película: uns olhos enormes, quase maiores que a própria alma, e que nos prendem sempre que ela olha para alguma coisa, como se a estivesse realmente a ver, e não apenas a olhar.

Claramente recomendável, pelo leque maravilhoso de actores (para além da referida Hathaway, temos James McAvoy, Julie Walters, James Cromwell, Maggie Smith), pelas paisagens e casas magníficas (digo eu, que adoro estas "casinhas" de campo inglesas!!!), e claro, pela famosa personagem histórica que retrata.

Apenas uma pequena pausa, neste maravilhoso mundo literário que nos rodeia. Entretanto, Boas Leituras!


(Con)Textos XVII

Não resisto a publicar aqui um pequeno (!!!) excerto do "Equador" que penso que é mais do que apropriado para descrever e para compreender o País em que vivemos.
Só espero que as gerações futuras possam olhar para isto e em vez de tirarem as mesmas conclusões que eu, possam dizer com toda a convicção que estas palavras fazem sem sombra de dúvidas parte do passado.

«Desde 1890 - a data do Ultimatum inglês - o País mergulhara em profundo crise: política, económica, cultural e social. Com o fim da escravatura no Brasil tinham cessado as remessas dos emigrantes, que até aí equilibravam as contas externas do reino. Tudo o que era imprescindível à modernização do país era importado, e as únicas verdadeiras exportações eram a cortiça e as conservas de peixe. Pequenos sectores como o vinho do Porto ou o cacau de São Tomé, eram uma pequenissima contribuição no imenso déficit comercial corrente. Todos os anos, o Orçamento apresentava um desequilíbrio de cinco a seis mil contos, a acumular a uma dívida flutuante de oitenta mil. Mais de três quartos da população de cinco milhões e meio de pessoas vivia nos campos, mas a agricultura, inteiramente baseada numa mão de obra barata e miserável, não chegava sequer para evitar a fome. Oitenta por cento da população era analfabeta, noventa por cento não dispunha de cuidados de saúde e vivia exposta à doença e às epidemias, basicamente como na idade média. Portugal era o mais atrasado país da Europa, o mais inculto, o mais pobre, o mais triste. Mesmo entre a elite, pouco mais acontecia do que as cíclicas revoltas dos estudantes de Coimbra contra os exames ou a temporada lírica do São Carlos, que durava os três meses de Inverno e ponto final. Uma aristicracia diletante e retrógrada julgava que o mundo fora do São Carlos, se resumia às corridas de cavalos organizadas pelo Turf, às noites na "parada" de Cascais, nas casas da Ericeira ou nas quintas de Sintra, durante o Verão. Apenas os incomodavam ligeiramente os "novos ricos", os "intelectuais" e os republicanos, que, todavia, sabiam circunscritos a um exíguo espaço físico demarcado por meia dúzia de cafés lisboetas, para além dos quais, o povo, como sempre, acreditava nos desígnios da Providência, nos sermões de resignação da Santa Madra Igreja e na vontade divina que comandava a sua infinita riqueza patrimonial dos senhores e morgados do país.»

Inevitavelmente...

...adorei!


Como era de esperar li o meu primeiro livro da Rainha do Crime, Agatha Christie, e adorei!
Sabia que a escritora tem o truque de nos apontar uma personagem, para depois nos surpreender no fim com um culpado inesperado. Mesmo sabendo isto e apesar de ter passado o livro todo a lembrar-me deste facto, não conseguiu chegar ao fim sem dar uma gargalhada descomunal por ter sido enganada...
Se dependesse de mim, o assassino teria uma vida longa e saudável, sem eu nunca desconfiar!

Não há nada melhor que saber que vamos ser enganados, e mesmo assim adorarmos esse facto.

Agatha Christie apanhou-me desprevenida e deixou-me sem defesas. Estou já a apontar para o próximo, porque realmente se todos os livros forem assim, a escritora ganhou mais uma fã!

Comecei tarde, mas se tudo correr bem, ainda vou a tempo!

Entretanto, Boas Leituras!

Um Homem na Escuridão

"Um Homem na Escuridão" foi o primeiro livro de Paul Auster que tive o prazer de ler. É um livro que se lê de um fôlego tal é a vontade de saber como a história se vai desenrolar.
Auguste Brill é um homem, recentemente viúvo, com insónias. A sua filha passou por um divórcio complicado e a sua neta sofreu a perda abrupta do namorado. Vivem juntos em casa de Miriam, a filha, num momento de transição da vida dos três. A história acontece numa noite apenas, com Auguste a recordar momentos da sua vida passada e presente. O outro passatempo de Auguste Brill é inventar histórias, onde dá vida a personagens que lhe preenchem as noites passadas em claro.

Adorei o livro porque me identifiquei absolutamente com ele. Eu também tenho insónias. Não é que passe a noite toda sem dormir, mas enquanto não adormeço, invento outras vidas que podia viver, para não pensar nos problemas diários que por vezes me tentam tirar o sono. Foi a forma sensata que encontrei para passar algumas horas que podiam ser completamente perdidas a pensar em coisas que ainda não aconteceram e que provavelmente não vão acontecer.
Percebo Auguste Brill do fundo da alma, e só alguém com uma capacidade extraordinária podia passar isso para o papel. Paul Auster foi esse homem, que nos compreende sem o saber, e que num pequeno livro condensou a vida de todos aqueles que, pela sua incapacidade de adormecer mal tocam na almofada, inventam outras vidas para tentar chegar ao consolo que todos esperam quando se enroscam nos lençóis.

Obrigada Canochinha, por me teres dado a conhecer estes homens fantásticos da literatura: Paul Auster, o escritor, e Auguste Brill, o "Homem na Escuridão".

Para finalizar tenho de acrescentar que se este livro fosse uma música, só poderia ser a seguinte:

"Comptine d'um autre été" - Yann Tiersen



«Luke Fitzwilliam não deu qualquer importância àquilo que, para ele, não passava de um fantasioso produto da imaginação de Miss Lavinia Pinkerton, a quem acabara de conhecer no comboio e cuja teoria a levava a dirigirse à Scoland Yard. Segundo a velhinha, as mortes que assolaram a pacata aldeia onde vivia deviam-se à acção de um assassino em série. Mas Lavinia não se ficava por aqui e acreditava conhecer a identidade da próxima vítima: Dr. Humbleby, o médico local. Algumas horas depois, Miss Pinkerton morre vítima de atropelamento. Mera Coincidência? Luke sentia-se inclinado a acreditar que sim… até que ao ler o The Times se depara com a notícia da inesperada morte do Dr. Humbleby…»
ASA




Para quem gosta tanto de policiais como eu, até me parece mal nunca ter lido nada da incomparável mestre do crime que é Agatha Christie. "Matar é Fácil é a sugestão de leitura da semana.

Entretanto, Boas Leituras!

Equador

«Equador é a linha imaginária que resulta da intersecção da superfície da Terra com o plano que contém o seu centro e é perpendicular ao eixo de rotação.» Wiquipédia


Equador é também um dos melhores livros que li até hoje.Há muito tempo que queria ler este livro. Nunca o comprei porque acho o preço um verdadeiro absurdo (27€ na Oficina dos Livros - e digo absurdo, não pelo preço em si, mas pelo facto de ser um autor português a editar um livro em Portugal!) e porque mo emprestaram antes da curiosidade se tornar insuportável. Foi a ideia da TVI em transformar a história numa novela, que me levou a pegar nele e a lê-lo num âpice!


É um livro de fácil leitura, com uma escrita fluída (apesar de precisar de alguma pontuação extra em algumas frases!), com personagens fortes e marcantes, e passado numa ilha luxuriante onde o cheiro a terra e a chuva se entranha em nós, como se lá estivessemos verdadeiramente.

Durante alguns breves dias dei por mim na distante São Tomé, na hora da chuvada, mergulhada em sons do Óbó (floresta), a espreitar da varanda do Palácio do Governador. Não podia ter sido mais maravilhoso ler o livro, só pela oportunidade de lá "ter estado".

Há alturas para os livros serem lidos. Esta foi a altura certa. Identifiquei-me tanto com o Luis Bernardo, que provavelmente foi esse facto que me levou a achar o livro maravilhoso.
Luis foi afastado a sua vidinha para ser governador numa ilha para quem Lisboa é apenas um longo suspiro e nada mais. Caiu no meio do nada e tentou fazer aquilo de que foi incumbido. No entanto foi tão incompreendido que poucas soluções lhe restaram.
Tenho dias em que me sinto assim: impotente e incompreendida. Ver isso escrito num livro ajudou-me a criar um laço com ele, possivelmente para sempre.
São os tais livros que marcam uma época, e tal como uma música ou um cheiro nos lembra determinado momento na vida, este livro também vai fazê-lo.

Absolutamente recomendável. Entretanto, Boas Leituras!

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