Blogger Template by Blogcrowds

(Con)Textos XVII

Não resisto a publicar aqui um pequeno (!!!) excerto do "Equador" que penso que é mais do que apropriado para descrever e para compreender o País em que vivemos.
Só espero que as gerações futuras possam olhar para isto e em vez de tirarem as mesmas conclusões que eu, possam dizer com toda a convicção que estas palavras fazem sem sombra de dúvidas parte do passado.

«Desde 1890 - a data do Ultimatum inglês - o País mergulhara em profundo crise: política, económica, cultural e social. Com o fim da escravatura no Brasil tinham cessado as remessas dos emigrantes, que até aí equilibravam as contas externas do reino. Tudo o que era imprescindível à modernização do país era importado, e as únicas verdadeiras exportações eram a cortiça e as conservas de peixe. Pequenos sectores como o vinho do Porto ou o cacau de São Tomé, eram uma pequenissima contribuição no imenso déficit comercial corrente. Todos os anos, o Orçamento apresentava um desequilíbrio de cinco a seis mil contos, a acumular a uma dívida flutuante de oitenta mil. Mais de três quartos da população de cinco milhões e meio de pessoas vivia nos campos, mas a agricultura, inteiramente baseada numa mão de obra barata e miserável, não chegava sequer para evitar a fome. Oitenta por cento da população era analfabeta, noventa por cento não dispunha de cuidados de saúde e vivia exposta à doença e às epidemias, basicamente como na idade média. Portugal era o mais atrasado país da Europa, o mais inculto, o mais pobre, o mais triste. Mesmo entre a elite, pouco mais acontecia do que as cíclicas revoltas dos estudantes de Coimbra contra os exames ou a temporada lírica do São Carlos, que durava os três meses de Inverno e ponto final. Uma aristicracia diletante e retrógrada julgava que o mundo fora do São Carlos, se resumia às corridas de cavalos organizadas pelo Turf, às noites na "parada" de Cascais, nas casas da Ericeira ou nas quintas de Sintra, durante o Verão. Apenas os incomodavam ligeiramente os "novos ricos", os "intelectuais" e os republicanos, que, todavia, sabiam circunscritos a um exíguo espaço físico demarcado por meia dúzia de cafés lisboetas, para além dos quais, o povo, como sempre, acreditava nos desígnios da Providência, nos sermões de resignação da Santa Madra Igreja e na vontade divina que comandava a sua infinita riqueza patrimonial dos senhores e morgados do país.»

8 comentários:

Temos um novo prémio no nosso blog ;) Boas leituras!

sábado, fevereiro 14, 2009 9:36:00 da tarde  

Este parágrafo é a prova de que o sítios onde nos encontramos hoje é, sem dúvida, resultado de toda uma história de coisas mal feitas no nosso país. Apesar de muitas coisas terem melhorado desde o final do século XIX, é triste verificar que continuamos na cauda da Europa.

sábado, fevereiro 14, 2009 11:42:00 da tarde  

Deixei-te um pequeno presente no meu blog...

domingo, fevereiro 15, 2009 12:39:00 da manhã  

Passei para avisar que tem um prémio no meu blog.

Boas leituras :)

domingo, fevereiro 15, 2009 4:26:00 da tarde  

Este país que retratas é o país em que hoje vivemos. Nada mudou, infelizmente. É incrível como continuamos apáticos face a toda a crise económica, social e política que nos assola. Neste ponto, o MST conseguiu ser muito queirosiano.

segunda-feira, fevereiro 16, 2009 11:27:00 da manhã  

Olá!

Têm um prémio à vossa espera no blogue Chocolate para a Alma – Ler Não Engorda (http://chocolateparaalma.blogs.sapo.pt).
Parabéns!

segunda-feira, fevereiro 16, 2009 12:07:00 da tarde  

Há um novo prémio no nosso blog :) Boas leituras!

segunda-feira, fevereiro 16, 2009 3:23:00 da tarde  

Parece que evoluímos... mas não muito =(

terça-feira, fevereiro 17, 2009 6:47:00 da tarde  

Mensagem mais recente Mensagem antiga Página inicial